quarta-feira, 24 de outubro de 2018

* * * * * 1ª Caminhada Extraordinária . Época 2018 / 2019 * * * * "Os Trilhos do Infante na Lacóbriga" . Dias 19, 20 21 de Outubro




Álbuns de Fotografias
Luis Martins
Dores Alves
Acilina Couto
Data do Evento: 19, 20 e 21 de Outubro
Local: Lagos
Percurso: “Os Trilhos do Infante na Lacóbriga”
Distância: 9 kms
Caminhantes: (52) Acilina Caneco; Amaro Raposo; Amílcar Queiroz; Ana Cristina Umbelino; Ana Leão; Anabela Coutinho; Angelina Martins; António Clemente; Arlindo Dias; Carlos Evangelista; Carmen Firme; Chico Pires; Clara Ferreira; Conceição Raposo; Cristina Archer; Dores Alves; Estela Garcia; Eunice Dias; Fernando Bernardino; Fortunato de Sousa; Hélia Jorge, João Figueiredo; Josefa Carrasco; José Clara; Juan Ambrósio; Júlia Costa; Lídia Albuquerque; Lina Fernandes; Luís Fernandes; Luís Martins; Luís Rasteiro; Luísa Clemente; Luísa Gonçalves; Lurdes Barbosa; Lurdes Clara; Manuel Barbosa; Manuel Garcia; Manuel Pedro; Margarida Lopes; Margarida Serôdio; Maria do Céu; Nuno Barbosa; Octávio Firme; Odete Vicente; Pedro Albuquerque; Rita Barbosa; Rita Valadares; Rogério Matias; São Corga; Socorro Bernardino; Tomáz Passanha; Virgílio Vargas; Vítor Gonçalves;
Participantes que não caminharam: (6) António Pires; Cidália Marta; Fernando Couto; Kinita de Sousa; Tina Rita; Virgílio Vargas.
Participantes Infantis (3): Bianca Barbosa; Diogo Barbosa; Gil Rasteiro.
Organizadores: Acilina Caneco, Manuel Barbosa e Vítor Gonçalves.
Próxima Caminhada: Dia 7 de Novembro (organizam: Fortunato de Sousa e Gilberto Santos)
Reportagem:
A ideia já vinha de longe… levar os Caminhadeiros a Lagos. Eu gostava de partilhar convosco as belas paisagens da costa de Lagos, tantas praias, tão diferentes, um longo mar azul tranquilo, cheio de barcos no verão, a história e o papel de Lagos nos Descobrimentos…
Sophia de Mello Breyner Andresen (SMBA) que sendo do Porto, adoptou Lagos a partir de 1960 como sua residência de inspiração, escreveu: “Quando eu morrer voltarei para buscar os instantes que não vivi junto do mar”.
O maior obstáculo a ultrapassar, o alojamento, ficou resolvido numa bela tarde de Agosto de 2018, em que eu e o Fernando Couto confraternizámos com a Lurdes e o Manuel Barbosa, na esplanada do café da Messe Militar de Lagos. No dia seguinte, ao caminharmos ao longo da Meia-Praia, apanhando freneticamente conchinhas, fiquei a saber que a Messe aceitava alojar os Caminhadeiros, na época baixa e a um preço muito favorável, desde que convidados pelo Sr. Coronel Manuel Carneiro Barbosa.
Proposta a ideia, foi prontamente aceite pelos Caminhadeiros-Mor.
Com o intuito de aproveitar simultaneamente o bom tempo de fim de verão e o preço da época baixa, ficou agendada a 1ª Caminhada Extraordinária para o fim-de-semana de 19 a 21 de Outubro de 2018. Que me desculpem as manas Fialho, o Manuel Reis e outros que ainda se encontram em modo “férias grandes”. Mas se adiássemos, diminuíam as probabilidades de usufruir do tempo veranil. Talvez um dia se repita…
Sexta-feira, 19 de Outubro
Como habitualmente, o autocarro contratado recolheu quase todos os participantes (49) nos locais do costume, Tires, Carnaxide, Benfica, Campo Grande e Encarnação. Às 18:40h estávamos a atravessar a ponte Vasco da Gama, conduzidos pelo Sr. Leonel e pelas 20:20h jantávamos no Canal Caveira com o subsídio de refeição distribuído pelo Luís Fernandes, que desta vez inverteu as suas habituais funções. O repasto, escolhido por cada um, constou de cozido, ensopado de borrego, ou sopa e bifanas. Alguns deslocaram-se em viatura própria. Antes de chegarmos a Lagos, já tínhamos sido avisados pelo Luís Martins, que os quartos tinham cama! Qual Cinderela, chegámos antes da meia-noite. Fomos recebidos pelo Nuno, filho do Manuel Barbosa, que distribuiu envelopes com o número e a chave do quarto, um telecomando de TV e um cartão para abrir o portão do Parque.
Sábado, 20 de Outubro
Iniciámos o dia a tomar o pequeno-almoço no café do Parque Militar de Lagos, com uma vista magnífica sobre a baía de Lagos, e um prometedor dia claro e luminoso.
Cerca das 9:30h já estávamos a caminhar nos novíssimos passadiços que partem da Praia do Porto de Mós até à Ponta da Piedade. Um belíssimo trajecto com o mar imenso do nosso lado direito e os campos de golfe, ténis e futebol do Cascade Resort, do lado esquerdo. Iniciámos a caminhada junto da Praia do Canavial e passámos pela Praia do Barranco do Martinho.
Gostei tanto do desenho que o António Palma fez para os pins, que o usei numa bandeirinha e numa T-shirt que usei, levando à letra o meu papel. Vesti mesmo a camisola desta caminhada!
Durante alguns minutos usufruímos da paisagem azul e verde do céu e mar bordejado pelo rendilhado das rochas douradas. Um mar profundo que se avista até Sagres. Mas calmo e convidativo. Percebe-se o enleio de Sophia:

“Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim.
A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho.
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.” (SMBA)

Vimos a clássica formação rochosa da Ponta da Piedade, donde partem, no verão, pequenos barcos para visitar as inúmeras grutas nas rochas.
Já em caminho de terra batida, por trilhos junto à costa, passámos pela Praia da Balança e pela Praia dos Pinheiros, (só visíveis a partir do mar), até chegarmos à Praia do Camilo com os seus duzentos degraus, que não descemos. Vale a pena fazer snorkeling por aqui, há muito para ver por baixo da superfície destas águas. Do lado esquerdo avistámos mais um belo trecho de costa, os 5 km de Meia-Praia, a ria de Alvor, a praia dos 3 irmãos e a Praia da Rocha, com a serra de Monchique em fundo.
Caminhámos por estrada até à Praia da D. Ana. Subimos por escadas até à arriba e caminhámos por trilhos de terra junto à Praia do Pinhão.
Daí dirigimo-nos de novo à Estrada 125, e chegámos a um pequeno miradouro sobre a Praia dos Estudantes e Praia da Batata.
Passámos pela estátua de S. Gonçalo de Lagos, de que é padroeiro. Foi beatificado em 1798 e o seu dia, 27 de Outubro, é feriado municipal em Lagos. Filho de pescadores nasceu em Lagos (1360) e faleceu em Torres Vedras (1422). Prosseguimos pela Avenida dos Descobrimentos. Anteriormente ocupada pelo mar, posteriormente assoreada, foi inaugurada como avenida em 7 de Agosto de 1960, integrada nas comemorações do 5º centenário da morte do Infante D. Henrique.
Passámos pelo Forte Ponta da Bandeira e pela Praça da República onde se encontra a estátua ao Infante D. Henrique.
Passámos pelo antigo Mercado Municipal, construído em 1924 e remodelado entre 2002 e 2004. No seu interior, foi inscrito em 27 de Outubro 2004, um excerto do texto “O Caminho da Manhã” da Sophia de Mello Breyner Andresen.
Foi fácil a caminhada no largo passeio da Avenida, ladeando a ribeira de Bensafrim. Vimos a Caravela Boa Esperança que é uma réplica das caravelas dos Descobrimentos. Construída em madeira, ostenta nas velas o símbolo da Cruz de Cristo. Destina-se à formação na arte de bem velejar, participação em provas e outros eventos náuticos, e à investigação do comportamento e manobra das antigas caravelas. O navio tem 22 beliches, três casas de banho e uma cozinha com capacidade de congelação. Tem uma autonomia de 5 a 6 dias no mar, em termos de alimentação, combustível e água. Com uma tripulação mínima de 17 pessoas, já visitou portos do Norte da Europa e do Mediterrâneo, e recebe um programa regular de visitas escolares.
Atravessámos a ponte levadiça da marina que se abre para deixar passar barcos com mastros mais altos.
“Maria… ficava na borda do cais de onde já não partia mais que alguma corveta de vigilância da costa. Na Marina, via os veleiros e outros demais barcos, quebrar em duas a ponte e rumarem a sul…” – texto da amiga escritora, ilustradora e professora de química, lacobrigense, Maria de Fátima Santos.
Chegados à Meia Praia, muitos descalçaram as botas e refrescaram-se na água caminhando na areia molhada.
Estava levante. Realmente o passeio de barco do dia seguinte estava comprometido.
Mas a água a 20,5º convidava a um banhito. Ao fim de 1km de caminhada na areia e enquanto esperávamos por outros, alguns de nós aventurámo-nos nas salsas ondas. Valeu bem a pena!
O autocarro conduziu-nos até ao Restaurante Adega da Marina, onde almoçamos.
De tarde tivemos uma visita guiada pelo historiador, técnico principal da Câmara de Lagos, Dr. José António Martins, sobre a Heráldica de Lagos.
Encontrámo-nos na Praça do Infante, junto à estátua do Infante D. Henrique (1960) no largo da Igreja de Santa Maria (1498). Observámos as Pedras de Armas (vulgo Brasões) da rainha D. Maria I, Conde de Avintes e a Pedra de Armas do Município de Lagos nos antigos Paços do Concelho e Hospital Militar e na antiga Alfândega de Lagos/Edifício do Mercado de Escravos. Vimos o Armazém Regimental datado de 1665 destinado ao armazenamento de produtos trazidos pelas naus que aportavam a Lagos, que ostenta na sua fachada, sobre cada uma das portas, um escudo de Armas do Reino do Algarve e, entre eles, a chancela do Conde de Avintes, Governador e Capitão General do Reino do Algarve. Observámos o Brasão de Lagos, situado no Jardim da Constituição, constituído por um pano de muralha com duas torres, encimadas pelas Armas do Infante D. Henrique. Passámos a ponte levadiça e vimos a lápida da Fortaleza Ponta da Bandeira, onde entrámos. Ouvimos a interpretação das lápidas comemorativas existentes na Messe Militar de Lagos/Castelo dos Governadores. No Armazém do Espingardeiro vimos a Pedra de Armas com a coroa régia do Conde de Avintes, com a devida explicação porque se encontra na esquina do edifício. Por fim vimos as Pedras de Armas das Famílias Pereiras, Barradas, Almeidas e Zuzartes (Heráldica de Domínio Senhorial) na fachada do Centro Cultural de Lagos.
Pouco tempo sobrou para nos prepararmos para jantar, o que ocorreu no Restaurante Atalaia. Aí foram oferecidos uns miminhos: barco ou ancora para as senhoras e aguardente de medronho para os homens, todos com o logo dos Caminhadeiros. Cantou-se os parabéns à Kinita que aqui festejou as suas 64 primaveras e outros cantes alentejanos.
Domingo, 21 de Outubro
O dia amanheceu com um sol e temperatura radiosos, embora as gotas de chuva nas folhas dos arbustos denunciassem o mau tempo da noite, que pelos vistos se desvaneceu na nossa presença.
“…
Na precisa claridade de Lagos é-me mais difícil
Aceitar o confuso o disforme a ocultação

Na nitidez de Lagos onde o visível
Tem o recorte simples e claro de um projecto
O meu amor da geometria e do concreto
Rejeita o balofo oco da degradação

Na luz de Lagos matinal e aberta
Na praça quadrada tão concisa e grega
Na brancura da cal tão veemente e directa
O meu país se invoca e se projecta” (SMBA)

Por causa do sueste e das ondas por ele causadas, não houve o planeado passeio de Catamarã. Mas como a montanha também tem os seus encantos, rumámos à Serra de Monchique. Passámos por estradas em que era evidente a passagem do fogo no passado mês de Agosto. O vento devia ter sido forte e a passagem do fogo muito rápida, pois havia árvores parcialmente queimadas como se apenas tivesse sido lambida de fugida por uma rápida labareda. Algumas estradas negras dum lado e verdes do outro. Muitos eucaliptos já cheios de rebentos verdes e muito viçosos. Chegámos à Foia, o ponto mais alto do Algarve, com 902 metros. Algumas nuvens negras formavam um tecto sobre a larga paisagem. Lojinhas de artesanato foram visitadas.
Descemos para a vila de Monchique. Visita rápida que alguns aproveitaram para comprar os bons enchidos, mel e medronho.
Descemos um pouco mais e nas Caldas de Monchique fomos almoçar no Restaurante O Castelo. Tudo muito bom, quer o polvo, quer as bochechas, para não falar nas entradas com os excelentes enchidos de Monchique e o Xarém temperado com mel e canela.
Durante o percurso de regresso a Lisboa ainda foi distribuído um bolinho do Algarve a cada viajante. Chamado pelos algarvios de doce fino. Trata-se de massapão (massa de amêndoa) moldada. Querem a receita? Muito simples: Junta-se 500gr de amêndoa ralada com 500gr de açúcar e amassa-se com 2 claras de ovo até obter uma pasta moldável. Deixa-se em repouso por algum tempo (pode ser de um dia para o outro) e finalmente moldam-se as figurinhas que desejamos utilizando corantes de pastelaria para colorir a gosto as nossas doces peças artísticas: cenouras, laranjas, melancias, figos…
Não confundir com os D. Rodrigos: Fazem-se pequenas bolas de fios de ovos com uma pequena cavidade em que se coloca uma porção equivalente a uma colher de sopa de ovos-moles. Prepara-se uma calda de açúcar em ponto de fio na qual, enquanto ferve, se colocam os Dom Rodrigo para que alourem, ficando levemente tostados. Retiram-se do lume, deixam-se arrefecer, pode-se acrescentar um pouco de amêndoa ralada, polvilham-se com açúcar e canela e envolvem-se em papel prateado.
Chegámos a Lisboa cerca das 19:30h.

“Há muito que deixei aquela praia
De grandes areais e grandes vagas
Mas sou eu ainda quem na brisa respira
E é por mim que espera cintilando a maré vaza" (SMBA)

Acilina Caneco

9 comentários:

CEF disse...

Parabéns
Falar, fala pouco, mas escrever, raio, que se espraia em tão grande praia.
Muitos PARABÉNS
Obrigado aos organizadores
Abraço
eu

virgili o vargas disse...

bela jornada!
parabéns aos organizadores!

foi uma belíssima caminhada!

e, by the way, aqui o vv caminhou. não fez a caminhada na totalidade, mas fez uns três quartos!

DoCeu disse...

Excelente reportagem! (E uma pontinha de dor de cotovelo... 😕
Só falta corrigir as datas do evento! 😁
Beijinhos para todos

Lurdes Barbosa disse...

Belíssima caminhada, ótimo fim de semana e excelente reportagem! Muitos Parabéns aos organizadores!
Muito Obrigada a todos os caminhadeiros (caminhantes e não caminhantes), pelo carinho, amizade e simpatia com que acolheram os meus familiares e amigos!
Beijinho grande para todos e até uma próxima extraordinaria!..;)

frjcouto disse...

Um texto de excelência com citações a propósito de uma Lacrobigente apaixonada pela sua terra FCouto

António Dores Alves disse...

Magnífica reportagem.
Bela caminhada.
Parabéns aos organizadores.
Abraços

HELIA disse...

Magnifico fim de semana e ainda mais magnifica reportagem, Cheia de detalhes, de paixão, de poesia.
Acilina onde é qe foste buscar a ideia que não tinhas jeito para escrever?
Obrigada a todos os que nos proporcionaram este fds e até dia 7 de Novembro.

Maria do Céu disse...

Boa caminhada, boa reportagem, boa comezaina. E os presentes uma delícia. Obrigada. Maria do Céu

Josefa disse...

Tudo magnífico! Foi uma jornada e peras (peras, não! mar, muito mar), fantástica reportagem.
PARABÉNS.