Álbuns de Fotos
Dores Alves
Local
de encontro: Livramento (Azueira, Mafra)
Percurso: 10,5 km – 3h00
Organizadores: Angelina e Luis Martins
Caminhantes: (31) Dores Alves,
Gabriela Bentes, Miguel Cardoso, Maria do Céu, António Clemente, Luísa
Clemente, João Costa, Nela Costa, Lina Fernandes, Luís Fernandes, Maria da Luz
Fialho, Carmen Firme, Octávio Firme, Gil Furtado, Manuel Garcia, Margarida
Graça, Rita Graça, Ana Leão, Fátima Libânio, Lúcio Libânio, Angelina Martins,
Luís Martins, Rogério Matias, Manuel Pedro, Carlos Penedo, Luís Pontes, Manuel
Reis, Gilberto Santos, Fortunato Sousa, Quinita Sousa, Odete Vicente.
Almoço: Restaurante Erva Doce -
em Livramento - 261 963 181
Reportagem:
Após uma noite com
alguma chuva bastante leve, às 9h00 previamente marcadas, toda a gente estava
presente.
Com um ligeiro
avanço de 5 minutos sobre a hora prevista deu-se início à caminhada a partir do
Restaurante/Cafetaria ‘Erva Doce’. Após os primeiros seiscentos metros –
em Bandalhoeira - iniciámos uma descida que nos permitiu aquecer os
músculos e tomar balanço para as subidas que nos esperavam. Não eram muito
pronunciadas mas eram ligeiramente prolongadas - cerca de dois quilómetros.
Deixando para trás
a Fórnea e a Portela do Gradil, pequenas aldeias da antiga freguesia
do Gradil (agora União de Freguesias do Gradil, Enxara do Bispo e Vila Franca
do Rosário), a cerca de dois mil e quinhentos metros da partida parámos pela
primeira vez para um curto retemperar de forças e prepararmo-nos para as
derradeiras mas muito acentuadas subidas até ao cimo da Serra do Chipre.
E entrámos na antiga freguesia do Sobral da Abelheira (agora União de
Freguesias da Azueira e do Sobral da Abelheira). (Chiça que já estou cansado só
de dizer os nomes destas invenções todas). Aqui foi posta a hipótese de, em
alternativa, toda a gente poder utilizar um outro percurso mais curto ou alguns
que se sentissem mais cansados o fizessem. Como era de esperar de tão bravos e
experimentados caminhadeiros ninguém optou por esta segunda hipótese. Por
conseguinte enchemos o peito de ar e demos muita corda às botas, iniciando os
últimos quatrocentos metros de subida que, como se disse, foram os últimos mas
não os mais fáceis. Mas, verdade seja dita, foram mais ou menos ‘papados’ com
uma ‘perna às costas’. Quase no alto desta subida encontrámos o muro que rodeia
a grande Quinta da Barroca e donde se podia ver uma área bastante grande
da Tapada de Mafra – que alguns recordaram com alguma nostalgia.
Continuando por umas centenas de metros ao lado do citado muro o percurso
começou a ser quase plano e aqui o grupo separou-se ligeiramente. Os
organizadores tinham muito gosto em fazer o percurso que anteriormente foi
escolhido, fazendo votos por que o tempo e a transparência da atmosfera
permitisse o desfrute de tão amplo e belo panorama. Nem sempre isso aconteceu:
não nos foi possível ver as Berlengas nem a serra dos Candeeiros mas, apesar de
tudo, não foi mau de todo pois pudemos ver locais por onde andámos
anteriormente: a serra da Archeira, a serra do Socorro, a serra
do Alqueidão, a Serra da Vila, aldeia por cima de Torres Vedras que
cruzámos aquando da Caminhada do Carnaval.
É verdade que o
ritmo da caminhada ia sofrendo algumas adaptações para que todos se pudessem
manter mais ou menos próximos. E a organização ia dando algumas instruções para
que o andamento dos da frente seguisse o que fora estabelecido. O que não
aconteceu a determinada altura. Mas como isso não iria prejudicar em nada o
resultado da caminhada achou-se por bem ‘deixar andar’ até porque iríamos
reencontrar um pouco mais à frente o caminho anteriormente previsto e que
tinha uma descida muitíssimo mais pronunciada do que aquela que acabámos por
fazer. E assim foi. Em Monte Gordo reunimo-nos novamente e demos início
à terceira parte do percurso que, abençoados organizadores, escolheram por ser
sempre a descer ou em plano, fazendo-o por caminhos que passavam através de
campos cultivados e por meio de pomares, de pereiras e macieiras. Como decerto
repararam, no início da caminhada predominava a vinha e agora, para o fim,
víamos mais os pomares. É por isso que, cerca de quinhentos metros antes de se
sair da N8, se encontram dois grandes complexos que são a Adega Cooperativa da
Azueira e a FrutOeste que dão vazão a quase toda a produção de fruta e vinho.
Mas voltemos à
vaca-fria. A teoria subjacente a esta caminhada foi a de dividir o percurso em
três partes: a primeira seria a mais difícil porque era a subir e, portanto,
dever-se-ia aproveitar o facto de todos estarem frescos (e neste caso com um
tempo fresco que veio ajudar); a segunda parte seria no cimo da serra e teria
alguma irregularidade (uma ou outra subida e algumas descidas mas
maioritariamente plana); finalmente a terceira parte, e perante o previsível
cansaço, o percurso seria a descer e em plano também. Parece que foi uma
decisão acertada pois, com um esforço controlado e contínuo, toda a gente fez o
percurso dentro do horário previsto, tendo havido apenas o previsível cansaço e
os pés um pouco doridos. Cerca das 11h59 recebi um telefonema do nosso grande
amigo e caminhadeiro Carlos Evangelista dando-nos notícias suas, querendo saber
de nós e desejando uma boa e bela caminhada, enviando beijos e abraços para as
caminhadeiras e caminhadeiros respectivamente. Fruto das preocupações do dia o
organizador que recebeu o telefonema esqueceu-se de comunicá-lo a todos. Aqui
se penitencia pedindo desculpas ao Carlos e dando conta do facto a todos, ainda
que atrasadamente.
Ainda antes das
13h00 entrámos na sala do almoço – uma sala nas instalações do Sporting Clube
do Livramento que a D.Susana, proprietária do Erva Doce se esmerou em preparar
para nos servir o almoço. Aí, para retemperar as nossas forças ligeiramente
abaladas, começámos com as ‘entradas’ que já estavam à nossa espera. Minutos
depois foi-nos servido pela D.Susana, e por uma sua empregada, o primeiro prato
que era uma estreia para todos, organizadores incluídos: ‘Grão de marisco ’que
rapidamente passou de curiosidade e se tornou numa realidade palpável, papável
e, em muitos casos, repetida. Foi um prato de que a maioria dos presentes
gostou e elogiou. O segundo prato foi ‘Carne de porco à saloia’ que é
uma ligeira variação da ‘Carne de porco à portuguesa’ e que todos conhecem.
Os vinhos eram da
Adega Cooperativa da Azueira e conseguiram ser bem aceites pelos presentes,
preferindo muitos o branco ao tinto. Para sobremesa houve salada de fruta e
doces vários. Mais tarde o chá continuou a senda já trilhada durante o almoço,
deixando os caminhadeiros bastante agradados no que respeitou à área da
gastronomia: a sala muito funcional e com uma disposição das mesas de modo a
todos estarem de frente para todos, a qualidade da cozinha e a simpatia e
eficiência no serviço.
Os momentos
culturais foram, como desejado pelos organizadores, mais uma vez um desmentido
a quem gosta de nos caluniar dizendo que nas nossas caminhadas só se pensa em
comer. É verdade que uma boa refeição retempera a vertente física do ser humano, mas não só:
não esqueçamos que o corpo é o suporte de um bom espírito, de uma fluidez
intelectual onde o raciocínio se deverá assentar. Encontramo-nos
principalmente, no nosso ponto de vista, claro, para conviver, para nos
enriquecermos partilhando vivências e ouvindo opiniões, conselhos e histórias
que a todos ajudarão na sua vida presente e futura. Isto faz-se enquanto se caminha
e faz-se, sobretudo e à boa maneira portuguesa, sentados à mesa perante uma boa
refeição onde os amigos se estreitam mais e os que ainda o não são rapidamente
se incluirão nesse círculo, reduzindo inibições de vários tipos.
Mas a cultura é um
conceito muito amplo, muitas vezes com difíceis e não muito claras fronteiras,
podendo incluir-se nela tanto o teatro como o cinema, a ópera ou a dança (só
clássica?), a escrita, as artes manuais (como a escultura) – e o artesanato
não? - etc., etc., etc. E será que
apreciarmos as nossas terras, vermos como o nosso povo cuida do seu património
(antigos castelos ou monumentos que representam a sua História), de como
respeitam as antigas formas de trabalhar e engenhos que os mantiveram durante
milénios, ouvir o seu canto ‘tradicional’ como forma de exprimir os seus
sentimentos, o seu dia-a-dia, ou admirarmos as nossas paisagens e concluirmos
que ainda há, felizmente, pessoas que se preocupam em as preservarem, em
aumentar a sua beleza, transmitindo aos visitantes o orgulho que sentem por aí
viverem, por serem o que são – não será isso também uma forma de cultura,
talvez a mais profunda a calar no íntimo do ser humano?
Toda esta
‘filosofia barata’ vem a propósito da parte cultural escolhida para completar o
nosso dia: a visita ao ‘Atelier d’Arte, Lda’ da família Canhoto, mestres na
marcenaria artística e no embutido. Fora esta a primeira ideia que tivemos e
que, em boa hora e graças à intervenção do sr. João Canhoto, foi desenvolvida,
aceitando de bom grado a sua sugestão de contactar o Mestre Organeiro
Comendador Dinarte Machado que poderia ilustrar a estreita colaboração
existente entre eles no desenvolvimento de projectos que, frequentemente, têm
áreas comuns. A nós, organizadores, nem nos passara pela cabeça pedir a
colaboração do Mestre Dinarte Machado mas, perante a sugestão do sr. J.Canhoto,
nem chegámos a pensar uma segunda vez quando ele nos disse que tratava de o
contactar para ver da possibilidade de vir também falar um pouco da sua
profissão mas, sobretudo, da sua arte. Como houve oportunidade de se ouvir, a
família Canhoto está muito ligada ao Mestre Dinarte Machado por força da sua
arte. Quando este aceitou dizer-nos umas palavras ficámos como aquela pessoa
que, tendo um belíssimo bolo, ainda recebe uma linda cereja para lhe colocar
por cima. Não nos vamos alongar sobre a ligação existente entre eles – e aqui
remeto para os textos que vamos colocar no blog para mais alguém poder ler –
pois essa dúvida surgida de início: que tem a ver a marcenaria e os
embutidos com a organaria foi larga e profundamente esclarecida e
justificada durante a visita à Igreja do Livramento (*); numa primeira parte em
que se fez uma pequena resenha histórica da terra, da igreja e do órgão – pelas
palavras do sr. José B. Lucas – e numa segunda parte pelas palavras de Mestre
Dinarte Machado que nos falou do seu trabalho e que, no fim, nos presenteou com
a execução de alguns temas musicais que lhe servem para testar e afinar os
tubos e engenhos dos órgãos que repara ou que fabrica.
A seguir
dirigimo-nos às instalações do ‘Atelier d’Arte’ que, para nós, era o bolo há
tanto tempo conhecido e que, também há muito desejávamos mostrar aos nossos
amigos caminhadeiros. Entrámos nas suas instalações com o espírito da criança
que fica maravilhada perante jóias que julgava já não se fazerem mas que,
afinal, ainda há uns mágicos que as produzem e nos deixam apreciar,
maravilhando-nos com a sua Arte. Fomos recebidos em dois grupos pela família
Canhoto que, com uma simpatia inultrapassável, nos deu algumas informações
sobre o seu trabalho, nos exemplificou alguns momentos do seu trabalho, nos
mostrou algumas peças em fase de desenvolvimento e, sobretudo, nos permitiu
admirar obras acabadas de uma beleza estonteante; por fim responderam às
questões que alguns de nós colocámos, fruto da nossa curiosidade e do espanto
perante tanta beleza e engenho. Ainda tivemos o privilégio de poder ouvir a
execução de pequenas peças musicais tradicionais com que o sr. F.A.Canhoto nos
presenteou, executadas em alguns dos catorze tipos de instrumentos que domina e
que, decerto, algumas fotografias irão ilustrar.
Saímos das suas
instalações como saíramos da igreja: conscientes de estarmos espiritualmente
mais ricos, fruto da presença, da beleza e do conhecimento de obras de Arte e
de pessoas que nos transmitiram notas sobre o seu saber e o seu querer serem
melhores, tanto na sua profissão, como na sua vida.
Quanto ao chá
apenas podemos referir que as bebidas estavam óptimas e que os bolinhos também
não destoavam dos que prováramos ao almoço.
Os organizadores
esperam que o dia tenha sido do agrado, senão de todos, pelo menos da maioria
dos caminhadeiros.
Saudações
Caminhadeiras
Angelina e
Luis
(*) Para quem não
teve oportunidade de estar presente aqui fica o porquê da sua colaboração:
aquando da reparação/reconstrução do órgão de armário da igreja do Livramento,
além da parte musical, isto é, da construção dos tubos, sua afinação e engenhos
para os ligar, era preciso fazer um armário novo, um teclado novo, uma
pedaleira nova, novas portas etc. que teriam de ser feitos por alguém fora do
âmbito da Oficina do Mestre Dinarte Machado. Quando foi sugerida a colaboração
com a família Canhoto, e após alguns trabalhos iniciais, nunca mais esta
colaboração foi quebrada, passando a tornar-se estreitíssima e
permanente.