segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

9ª Caminhada da Época 2013 / 2014 * Dia 08 de Janeiro * Caminhos do Intendente-Geral




Álbuns de Fotos:
Luis Martins
Dores Alves
Fortunato de Sousa
Lúcio Libânio
Data do Encontro: 08/01/2014
Organizadores: Octávio Firme (contactos históricos) e Gil Furtado (logística)
Local: Manique do Intendente
Extensão e duração do percurso: 11,00 Kms em 03:00 horas
Caminhantes:(29) Ana Gualberto; Angelina Martins; Fátima Libânio; Graça Sena; Luísa Gonçalves; Lurdes Clara; Maria Luísa Morgado; Odete Vicente; Quinita de Sousa; Teresa Palma Duarte; António José Clemente; António Palma; Carlos Penedo; Dores Alves; Fortunato de Sousa; Gilberto Santos; João Costa; João Duarte; José Clara; Lúcio Libânio; Luís Fernandes; Luís Martins; Manuel Flôxo; Manuel Garcia; Manuel Reis; Rogério Matias; Virgílio Vargas; Vítor Gonçalves e este organizador
Ao Almoço:(33) Os 29 caminhantes mais Carmen Firme, Octávio Firme, Vítor Trigo e, como convidado, o historiador Dr. José Pereira
Almoço: Restaurante A Ponderosa (EN1, Alcoentre, Tel.: 263 486 115)
Lanche: Pão Café e Companhia (Manique do Intendente, Tel.: 914 102 728)
Próxima Caminhada: 22/01/2014 (Fortunato de Sousa, Luís Fernandes e Vítor Gonçalves).
Reportagem:
Mal ou bem, cumpriu-se mais uma jornada: caminhada, almoço, parte cultural e lanche de despedida, com a particularidade de, desta vez, o chá de fim de dia ter sido abrilhantado com um acto de variedades.
Um minuto depois da hora marcada para início da concentração, quando o organizador chegou ao local, já lá estavam caminhadeiros esperando. O organizador nem teve tempo de ver quais nem quantos, porque imediatamente teve que levar os esfomeados que trazia no carro, mais uma esfomeada que se lhe juntou, a um sítio onde pudessem tomar o pequeno-almoço. Confesso que também não resisti, e aproveitei para reforçar a minha alimentação da manhã com um complemento à moda do nosso amigo Flôxo: metade de um pão com chouriço, acabado de sair do forno, e uma cerveja mini. (Daqui agradeço ao companheiro Dores Alves, que pagou). Digamos que foi um mini-reforço, mas, lembrado do Flôxo, trouxe-lhe expressamente um pão completo com o chouriço correspondente. Acho que ele apreciou.
Cumpridas as formalidades habituais – fotografias de grupo, discurso de abertura de trabalhos, boas-vindas à neófita caminhadeira Ana Gualberto - metemos pés à caminhada. Passariam uns 5 minutos da hora marcada.
Imediatamente, os do costume se adiantaram: ainda não tínhamos andado 50 passos e já eles iam 100 largas passadas à frente. E por mau caminho! Tiveram que retroceder, evidentemente, porque o itinerário era pela antiga rua dos Barbeiros – não sei de onde lhe vem o nome, mas nunca lá conheci nenhum – e passagem pelo Largo da Forca ou Largo do Pelourinho, hoje pomposamente baptizado de Praça dos Imperadores – alguma vez Pina Manique terá pensado nesse nome? – saindo-se de Manique pelo caminho da fonte e pela ponte que nunca foi senão ponte mas agora é de Dona Maria I. Por alturas do “Cu da Maria Delfina” – a este sítio ninguém mudou o nome – abandonámos o asfalto e subimos em direcção ao cemitério por serventia de fazendas. Não vale a pena descrever todo o itinerário, porque, com mais ou menos asfalto, mais ou menos lama, maior ou menor dificuldade, todos o fizeram. Não sei é se todos aproveitaram a paisagem e sei que poucos aproveitaram o conhecimento da região e das suas histórias que podiam ter sido proporcionados pelos autóctones (Maria Luísa, António José e este vosso amigo).
Quanto ao itinerário, diga-se apenas que em boa hora o organizador desistiu de vos levar a descer a ladeira do Zingazil, verdadeira batalha de Atoleiros, embora com isso tenhamos perdido o Rico Lugar e a sua lenda, a ruína que ninguém sabe explicar mas que terá sido antiga igreja, dada a planta, e boas paisagens, e acrescente-se que depois do cemitério velho – que muitos não viram e ainda menos viram a placa que assinala o presumível local da igreja de São Pedro de Arrifana – passámos a caminhar sobre o Canal Alviela, até ao Carvalho e daí até à Póvoa de Manique. Chegados novamente a Manique, estava a volta dada, muito mais lenta e longa do que o organizador a imaginara.
Ao almoço, foi o que todos sabemos. Conto apenas que o organizador pediu ao empregado que nos servia, Hilário de seu nome, uma caixa de cozido para em casa fazer a experiência de o lavar, a ver se lhe tira o excesso de sal (ainda está no congelador), e quando soube que a patroa ralhara com a cozinheira teve o cuidado de procurar a cozinheira para a acalentar. E só não acalentou também a patroa porque não a encontrou, mas encontrando o patrão também a ele o animou.
Ainda ao almoço, fomos brindados, mulheres e homens, com saborosas ofertas do casal Clara: deliciosos chocolates Cailler, expressamente por eles trazidos dos Alpes suíços. Que são deliciosos posso garantir-vos, pois estou neste momento a saborear um. ( E, ai de mim, não sei se conseguirei parar enquanto houver!…)
Numa das sua típicas brincadeiras, o João Duarte resolveu, muito inopinadamente, cantar-me os “Parabéns a Você”. Pôs tanta convicção no gesto que houve quem acreditasse que eu fazia anos. Esclareço, a bem da verdade, que não merecia parabéns, nem por essa razão – não faço anos senão lá para o Verão – nem por outra qualquer.
Era mais que tarde quando nos dispusemos a regressar a Manique, para a palestra cultural, e cabe aqui contar uma pequena história que foi, para mim, o melhor momento do dia. Verificando que o Dr. José Pereira viajaria sozinho, no seu carro, lamentei não saber se haveria entre as caminhadeiras uma livre e bonita que o pudesse acompanhar, ao que ele me respondeu: «Livres, não sei; mas bonitas são todas. E olhe que eu não tomei Viagra oftálmico!» (Estou a citar de memória. Se não foi exactamente assim, o Dr. José Pereira que me desculpe, mas não terá sido muito diferente, e ao cometer esta indiscrição, o que pretendo é homenagear, também eu tal como o Dr. José Pereira, as nossas queridas Caminhadeiras).
Após a palestra, desdobrada em dois locais, igreja e largo do Pelourinho, a qual foi do agrado de todos – e cabe aqui agradecer que o acesso à igreja também se deve aos bons ofícios do Dr. José Pereira, dado que a claviculária por mim contactada não o conseguiu obter –, era tempo de tomarmos o chá, o que fizemos no “Pão, Café e Companhia”.
Fartura de chás variados e quentinhos e de bolos acabados de sair do forno – alguns deles, como os bolos de chouriço e as escarpeadas, desconhecidos de alguns dos presentes – misturados com muita simpatia e o tal acto de variedades que, apesar de só termos tido três meses – mais ou menos – para ensaiar, não saiu mal de todo. A prová-lo, os aplausos e os pedidos de bis – que vocês não ouviram mas eu ouvi.
Feliz, feliz, fique eu, que recuperei o meu bastão. (Assim que vi a dificuldade com que o Reis o tirava de onde o tinha escondido percebi que só podia ser o meu). Mas continuo sem boné!

Com votos de muitas e boas jornadas futuras, de preferência menos salgadas, despede-se o
Gil Furtado.

Nota: Julgo-me na obrigação de dizer que na conversa havida entre mim e o Octávio Firme, por sua iniciativa, após o anúncio da ida a Espanha em 25, 26 e 27 de Abril próximo, conversa que só serviu para confirmar – e mesmo aumentar – a consideração e a estima que tenho pelo Octávio e pela Carmen, fiz questão de imediatamente me inscrever. E aqui fica a confirmação pública.
Só um motivo de muitíssima força me impedirá de ir. Sei lá: outro 25 de Abril, por exemplo.

Abraços amigos do

Gil

5 comentários:

Fortunato de Sousa disse...

Já temos a 1ª reportagem do ano publicada, e felizmente voltamos a ter repórteres de qualidade. Mesmo a sofrer os efeitos de uma malvada gripe muito sua amiga que não o abandona nem por nada, o nosso amigo Gil produziu uma narrativa, que aliada às imagens dos fotógrafos de serviço, são a imagem perfeita do que se passou nos 'Caminhos do Intendente-Geral.
Portanto amigo Gil, quando a gripe se for embora vai já pensando no local onde vais organizar outra caminhada.
Um abraço Caminhadeiro e até ao Gaio Rosário,
Fortunato de Sousa

Gil A F Furtado disse...

Amigos,

Quando estamos desanimados, não tanto pela «gripe», que não passa de uma constipaçãozita ou até talvez seja apenas uma ligeira bronquite de apreciador de uns esporádicos meio-charutos holandeses velhacos - que para os Cohiba Lanceros já não dá -, mas pelo excesso do malvado sal que tanto prejudica as artérias, não há nada como uma palavra amiga para nos ajudar a recuperar.

Mesmo que o elogio e a confiança expressa sejam exagerados, é sempre bom ouvir uma palavra reconfortunatante.

Obrigado, amigo Balão.

As reportagens fotográficas vou vê-las agora, mas não tenho qualquer dúvida prévia sobre a sua qualidade, pelo que agradeço também aos fotógrafos.

Até Gaio-Rosário. Coza o forno, corra o vinho e haja saúde.

Gil Furtado

Anagu disse...

Muito Obrigada pelo dia bem passado e divertido, que me proporcionaram, e principalmente, a forma calorosa como me receberam!

Achei tudo bem organizado, desde o percurso até ao chá, e a acabar na reportagem :)

Beijinhos Ana Gualberto

Gil A F Furtado disse...

Para memória futura:

(Parte 1)

No “acto de variedades”, começámos por ouvir a minha queixa pelo desaparecimento do bastão e do boné, mera deixa para obrigar o Balão a ler as décimas alentejanas com que me “glosou”:

Dor na perna, cotovelo
Um bypass no coração
Depois caiu-te o cabelo
E agora não tens bastão

Tens que aceitar, é a vida
Mas não estavas preparado
A tua alcunha é o entalado
E estás num beco sem saída.
Tens a imagem comprometida
Na verdade, há que dizê-lo,
Não és o homem modelo
A que nos habituaste
Desde o momento em que ficaste
Com dor de perna e cotovelo.

E agora andas esquecido,
Deixas tudo em todo o lado,
E para ficares recuperado
Só à base de comprimido.
Ouve bem o que te digo
E toma muita atenção
Porque tu és brincalhão
Mas a doença é coisa séria
E implementaram-te na artéria
Um bypass no coração

És um grande prosador
Exímio na narrativa
E na minha perspectiva
És o nosso Senador.
Pelo teu mérito e valor
Aqui te faço um apelo
Não dês atenção ao grelo
Porque foi pelo seu perfume
Que tu comeste o legume.
Depois, caiu-te o cabelo

E não te lamentes mais
Já basta de choradeiras
E as tuas brincadeiras
São bem mais originais
Vê lá bem por onde vais
Não caias na tentação
Já que por esta razão
De o tentares pôr de pé
Tu já perdeste o boné
E agora não tens bastão

(18 de Dezembro de 2013)

Perante este tão bem elaborado ataque, fiquei sem defesa. Mas sentindo que as boas normas de etiqueta me obrigavam a homenagear o poeta, terminados os aplausos levantei-me e, muito humildemente, confessei:

«Aqui, fiquei sem resposta».

Da “plateia”, em aparte, o Virgílio Vargas, muito oportunamente, lembrou:
«E sem bastão…»

E isso fez-me concordar:
«Sem resposta e sem bastão»

(pausa)

«E glosado pelo Balão!»

(nova pausa e, virando-me para o Balão, no completo silêncio da “plateia”, acrescentei:)

«Glosa! Glosa enquanto podes,
Que a glosar dessa maneira
Ainda um dia te sacodes!...»

(Permitam-me uma pequena imodéstia: nos olhos do Balão vi o aplauso de um verdadeiro poeta popular alentejano felicitando um pobre repentista das terras do fandango).

De seguida, mas depois de muito instado, conseguimos que o Vítor Gonçalves, que ,cada vez mais, se vem revelando um poeta de mão cheia, lesse um dos seus últimos trabalhos:

Quem vem aqui com intenção
De na caminhada se inscrever
A primeira coisa que faz
É todos os comentários ler

Se a escrita é de forma normal
Só a informar da presença
Será até muito natural
Que pouca atenção mereça

Mas se houver algo de novo
Tão simples, sei lá, como ”esperar”
Todos entram na brincadeira
E querem este verbo usar

Sentimos de uma forma curiosa
Que é este espírito que nos anima
Uns chamam a atenção com prosa
Outros esmeram-se na rima

Se o objectivo é caminhar
Pois bem, que o façamos,
Mas um dia bem passado
É o mínimo que esperamos.

Bom fim de semana e até 4ª feira
Em Manique do Intendente.
Com o Gil “pode ser, pode ser”
É andar p'ra trás e p´rá frente.

(3 de Janeiro de 2014)

(A explicação de “andar para trás e para a frente” pode ser vista na reportagem da primeira ida a Manique, em 18/11/2009. A de “pode ser, pode ser” encontra-se no comentário de Carlos Sales à reportagem da segunda ida a Manique, em 12/01/2011).

Gil A F Furtado disse...

Para memória futura.

(Parte 2)

Escusado será dizer que este poema e o seu dizedor também foram muito aplaudidos por uma plateia cada vez mais entusiasmada, no entanto, e não retirando nada do merecido mérito do poema, onde se queria chegar era à rábula seguinte: o poema “malcriado” do Vítor Gonçalves.
Cabe explicar que esta obra lírica de tão promissor vate é fruto de uma meditação filosófica que o autor fez em dia de tristeza provocada por uma derrota do Benfica - «É mentira!», corrigiu o João Duarte – em que a sua dúvida existencial foi tão dolorosa que o levou a questionar não a probidade do árbitro mas a sua – dele, Vítor - condição de poeta
Efectuado um breve sorteio, coube a este humilde escriba o prazer de ler o poema, ficando o ilustre autor encarregado de censurar o que bem entendesse, já que entre tantos e tão atentos ouvidos podia haver alguns mais sensíveis (o que não é o meu caso, como todos bem se apercebem).
Como este peça de antologia continua inédita, aproveito a oportunidade para dá-la à estampa:

Depois de muito analisar
Lá cheguei a uma conclusão
A minha arte de versejar
Deve-se à falta de (piiiiiiii!)

(Nota do editor: o censor limitou-se a esta apitadela)

Há uma troca de capacidades
Entre as cabeças principais
Uma trabalha bem e depressa
P'rá outra, uma por mês é demais

Tenho a certeza da transferência;
Tenho até a prova provada:
Uma verseja com competência
A outra é muito pouco usada.

«Estou p’ra ver se vais passar
Duma coisa extraordinária
A murcha e envergonhada
Só com função urinária.»

«Vá! Anima e recupera!»
Brincalhona e alegre outrora,
É uma sombra do que era,
Triste e descaída agora.

«Fazei, meu Deus, com que as cabeças
Voltem ao normal outra vez:
Que uma deixe de fazer versos
E a outra dê duas ou três.»

A plateia foi ao rubro, e a sala quase veio abaixo com os aplausos.

Não esteve presente o Manuel Pedro (nem a Maria do Céu), daí não ter sido lida a interessantíssima brincadeira que ele fez com alguns provérbios portugueses. Pode ser vista nas inscrições para a última caminhada de Manique do Intendente, mas não resisto a destacá-la aqui, para interiorizarmos bem o que perdemos no “acto de variedades”.

Quem espera desespera
quem tudo quer tudo perde
quem procura sempre acha
se não um prego, uma tacha
(e quem tem capa, sempre escapa?)

quem tem capa, sempre escapa
quem quer vai, quem não quer manda
quem espera desespera
quem pergunta quer saber
(e quem porfia, mata caça?)

quem porfia mata caça
quem tem boca vai a Roma
quem tudo quer tudo perde
quem espera sempre alcança
(e quem espera, desespera?)

(e quem não chora, não mama?)
(de que ri, quem ri por último?)
(...)

(5 de Janeiro de 2014)

As reticências entre parêntesis dão a entender que perdemos mais do que julgamos.
Por último, mas não menos importante, destaque-se a originalidade e a ironia que o Firme pôs na sua inscrição.

«Sempre por bom caminho e segue», era o lema do meu (nosso) quase conterrâneo Grandella,
É também a prática dos Caminhadeiros.

Abraços do

Gil Furtado